Entrevista com rapper MSY
By Matheus Morais
29 de setembro de 2024
Fotos: onde vem as fotos
Ruas da Paraíba: O rapper MSY fala sobre sua trajetória, ambições e a importância da cena paraibana no rap.
MSY é um artista em ascensão, buscando seu espaço na cena musical paraibana. Desde suas primeiras músicas, ele já se destaca com seu álbum que traz uma narrativa que aborda temas como família, superação e a luta para ser reconhecido. MSY busca mostrar que, mesmo como um artista pequeno, ele tem muito a oferecer ao rap nacional.
Fizemos algumas perguntas para MSY com o objetivo de entender os desafios enfrentados na cena underground aqui na Paraíba e saber mais sobre seu estilo de rap, as influências que o moldaram e os artistas que mais admira.
Álbum Apenas um Paraíbano Qualquer
Perguntamos sobre o novo álbum dele, "Apenas um Paraibano Qualquer", sobre motivações e inspirações para o Álbum e MSY respondeu:
"A inspiração do álbum foi que eu tava em casa sem um projeto, e na minha casa tem um quadro da capa do álbum, que é uma foto da família da minha mãe. Aí eu tava rimando e pensei: 'tenho um desejo, pra minha mãe só dou Moncler, perdas e glórias, de um menino que faltava fé, e agora? acende forte tipo chaminé, vim do poço, apenas um paraibano qualquer", relata.
"Aí, caramba, mano, fez muito sentido, porque o 'apenas um paraibano qualquer', mano, já reflete a nossa realidade sobre a música, mas não só a música em si, tá ligado? Tipo, a busca sobre você conseguir sair do seu próprio estado e ser reconhecido, tá ligado?"
"Porque, querendo ou não, mano, as pessoas de outros estados meio que já eliminam metade do Nordeste, tá ligado? Tipo, se você perguntar pra alguém de fora do Nordeste, e pedir pra ela citar 3 coisas que ela sabe sobre a Paraíba, eles vão citar o quê? Pobreza e coisas do tipo, pensam que a gente vive na miséria, que não tem sonhos, não tem futuro, etc."
"E isso se reflete também no rap, como nas vestimentas, que aqui não recebem investimento, no som mesmo, poucos lugares aqui investem de verdade na música, tá ligado? E isso tudo foi o retrato de 'apenas um paraibano qualquer', tipo, só porque eu sou apenas uma pessoa qualquer eu não posso fazer um som foda? "
"Eu sou uma pessoa igual a você, eu não sou apenas um paraibano qualquer, tá ligado? Eu sinto muito essa xenofobia que o povo tem sobre o nosso estado.", descreveu.
Estilo musical e estética própria
Questionado sobre seu estilo músical e sua estética, MSY comentou:
"Eu não gosto de me achar não kkkkk, mas eu tenho muito de criar meu próprio flow, meus próprios ad-libs, meu omaba, esses bagulho que eu tenho de inspiração. Eu pego muito o Kendrick Lamar como inspiração, porque eu prefiro fazer um bagulho épico, algo poético, uns beat épico, uma forma literária de fazer as produções e os beats."
Não é querendo me gabar, eu até posso errar em algumas músicas, mas tipo assim, a realidade é que todo mundo tá querendo ir na mesma onda, ninguém tá querendo se diferenciar, de ter a sua marca e tal. Tipo sobre a BMT (beatmottrap), que eu tô querendo ter uma marca, ter uma gravadora e fazer várias outras coisas.
O meu nome, MSY, é um símbolo que eu faço com a mão, tá ligado? Não é algo de gangue kkkkkk, mas o nome foi pensado num jeito artístico, do beat, etc. Todos os beats de jazz assim, épico, de trompete, esses beat harmonioso, tipo o Kanye West e o Kendrick Lamar, tá ligado?", relatou
Influências do cotidiano em suas criações
Perguntamos para MSY se o cotidiano dele influência na criação de músicas, e ele disse que não tanto...
"Mano, não me influenciou tanto na questão da criação do álbum em si. Eu me inspirei mais na minha família, na questão de querer vencer na vida, mano, de não querer ser uma pessoa qualquer, de não ser um paraibano qualquer, de não ser um músico qualquer. Não é questão de ego, tá ligado, mano? Eu respeito todo mundo, mas você tem que sempre querer dar o seu máximo, mesmo sendo ruim, mas sempre querendo alcançar o melhor possível, em questão de letras, beat, questão de família, principalmente família.
"O que eu quis passar com o álbum foi sobre famílias da Paraíba ou do Nordeste. A frase 'apenas um paraibano', esse paraibano pode ser visto de várias maneiras: apenas um nordestino, apenas um paulista. São pessoas que, tipo, têm talento, mas que são desacreditadas, tá ligado? Pessoas que são 'invisíveis', que meio que agem na escuridão, tá ligado? E eu trouxe essa visão. A capa do álbum meio que passa essa visão, mano. Eu coloquei ela meio escura pra pensar tipo, 'é uma foto antiga, caramba, ninguém dá valor aquilo ali, tá ligado?'", respondeu.
Inspirações locais
Questionamos MSY sobre quais artistas da cena do rap paraibano o inspiram a fazer música e quais ele vê que merecem mais destaque, e ele respondeu:
"Mano, com certeza a BMT, o meu grupo de música, o Mafia Mc, com certeza. Ele e o Niggusta, o Chamath que é irmão do Niggusta, são uns mano que agregam demais, mano, os cara se garantem demais, tá ligado? O Gmenor Mc também, a voz desse cara é impressionante, mano kkkkk não tem como."
"E o pessoal da BMT: Nairim, Negão, que é o Prodi-G, e Gmenor, mas mano, todo esse pessoal tem potencial, tá ligado? Tô conhecendo também o LS, muleque muito bom também. Essa cena da Paraíba tem tudo pra virar. Já falei pro Gmenor, se eu não conseguir, eu vou me esforçar só pra ele conseguir, mano, porque os muleque têm muito talento: o Mafia canetando, o Gmenor com a voz, o Niggusta nos beat, Nairim com aquela voz dela, mano, Negão com as barras dele..."
"Todo mundo é bom, mano. Tipo, eu achei o grupo que quer realmente chegar pra não ser 'apenas um paraibano qualquer', tá ligado?", detalhou.
Barreiras no rap paraibano
Perguntamos para MSY se existem barreiras no rap paraibano, ele prontamente respondeu:
"Sim, mano, tem barreiras, todos os estados têm barreiras. Mas o problema é que aqui na Paraíba a cena de rap e de trap não é conhecida. A realidade é muito escassa. Não tem estúdio, não tem microfone, não tem caixa de som, não tem equipamento. Nem estilo de roupa, mano. Por exemplo, eu visto Street Wear, visto Polo Wear, é tipo um 'Social Wear'. O pessoal daqui acha estranho, tá ligado? É uma parada que eles ainda não absorveram, como os outros estados que já são mais evoluídos nisso, nessa cultura mais street, tá ligado?"
"É louco essa dificuldade de buscar, tá ligado? No underground já é difícil, querendo ou não, você é um artista independente, né mano? Você não tem uma gravadora em cima, tem que chegar ao topo sem precisar de ninguém, ainda mais na Paraíba, que não tem esse bagulho de rap e trap."
"Tipo, quantas vezes tem show aqui, pô? Matuê, Teto... e compara com outros estados. Lá, toda semana tem show de rap, aqui é uma vez em nunca que tem, pô. É muito escasso, tá ligado? São poucos menó que aparecem e fazem o trampo.", comentou.
Maiores desafios do underground
Ao ser perguntado sobre quais são os maiores desafios da cena do rap underground no geral, MSY descreveu:
"Na questão de tudo, mano: estrutura, visibilidade e etc. Estrutura, porque, querendo ou não, mano, a Paraíba não é influenciadora nem de roupa, Street Wear, que é a base do rap, com roupas mais largas, bagulho do hip-hop, tá ligado? E a estrutura também é só forró, pá, os bagulho... Tipo, você vê alguém assim que faz rap, meus pais, por exemplo, já veem como uma coisa errada, tá ligado?"
"Por isso que eu falo, o começo é botar a mão em Deus, tá ligado? Deus primeiramente, e trabalhar, arrumar um emprego, juntar dinheiro e estudar aquilo que você quer ser. Estudar como funciona, pra você comprar um estúdiozinho. Eu mesmo, mano, faço música no BandLab, no celular, pô. Comprei um mic, vi ele na promoção por 100 conto, tá ligado? Fui em todos os cantos daqui e não tava achando, pô."
"E agora tô juntando um dinheiro pra, se Deus quiser, eu comprar o meu estúdio, montar ele pra fazer mais música e, tipo, fazer uns beat com o Niggusta pra agregar mais, tá ligado? É fé em Deus, mano, seguir trabalhando, acreditar, mano, e fé em Deus. Deus primeiramente, e correr atrás, mano. Estudar sobre aquilo que você quer ser, mano. Comprar qual o microfone melhor, interface e etc., tá ligado?"
Ambições e feat dos sonhos
Perguntamos quais são os sonhos do MSY dentro da música, e quais os artistas que ele mais gostaria de colaborar da cena mundial, e ele respondeu:
"A minha ambição no mundo da música não é querer buscar pra se achar o pica, não, tá ligado? Mas é chegar lá, ajudar a minha família, ajudar meus amigos, tipo, ser um cara de respeito no mundo da música. A ambição é um bagulho bom, tá ligado? Mas se você não souber controlar a ganância, mano, você tem que saber lidar com as pessoas. Quem já viu vários artistas aí na televisão querendo humilhar as pessoas, eu não gosto disso, não, tá ligado? Mas chegar em um palco, ser esse cara, ser abraçado pelas pessoas que iam ignorar você, como se você não fosse apenas um paraibano qualquer. "
Um feat que eu queria dos sonhos: Kendrick Lamar, com certeza, irmão! O Alee, Yunki Vino, o Eazy-E e o Jovem Dex. Cê loko, era o feat dos meus sonhos, mano, sério mesmo kkkkkkkk. Gravar um feat com esses caras aí, eu ficava muito feliz, kkkk, cê loko. É só honra e glória ao seu Deus, tá ligado? Mas, mano, o que os cara fazem no ramo da música é outro patamar, mano, até com o Matuê mesmo também. Qualquer pessoa que tá no mainstream assim seria uma honra trabalhar, tá ligado? Mas com certeza o que eu queria fazer é com Alee, Kendrick Lamar, Yunki Vino e Jovem Dex. É um sonho que eu tenho, tá ligado?"
Inspiração em aristas globais
Perguntamos ao MSY sobre quais artistas do mundo todo ele mais se inspira tanto em músicalidade quanto em postura artística, e ele respondeu:
"Com certeza, o Kendrick Lamar, sério mesmo, é a pessoa que eu mais vejo assim como um espelho. Em questão de clipe, vestimenta, mesmo que eu não me apegue muito à vestimenta dele, eu me apego mais na parte visual dos clipes, da música e coisas assim. Porque na vestimenta eu uso meio que uma polo com street wear, tá ligado? Mas, tipo, estilo visual, essas coisas, o Kendrick é outro patamar, sério mesmo."
"Meu avô tinha um disco de vinil, ele escutava blues, pô, e eu gosto de blues, tá ligado? E isso acaba puxando pro Kendrick, porque ele puxa muito jazz, tá ligado? Eu escuto muito Marvin Gaye, Etta James, Fenton Robinson, B.B. King, Freddy Cole, e etc. Os cara são brabos. Esses nomes já são um gancho pra fazer os beats da minha música, tá ligado? Pouca gente fala do jazz e do blues hoje em dia, mano, pouca gente mesmo."
E a entrevista acaba por aqui rapaziada, obrigado mesmo pela atenção e interesse. não se esqueçam de ir nas redes do mano e ouvir ele em todas as redes sociais, segue o mano no instagram, ele acabou de lançar o álbum "Apenas um Paraíbano Qualquer" no Spotify, tem no Youtube também e o trampo ta foda demais. E como sempre né? Ele manda demais na parada, caso o contrário nem estava aqui.